Ficar, namorar, fixar e… ?

por Dra. Maria Alves de Toledo Bruns*

A flexibilização de valores morais e afetivo-sexuais, com o advento dos anticoncepcionais, foi silenciosamente recriando o namoro e seus códigos a partir de novos limites de arranjos familiares com relação a deveres e desejos expressos em afeto e intimidade entre seus componentes. Assim, a família é um espaço de conflitos, aconchegos, disputas e a sexualidade o fulcro de tensões familiares.

Por estar focada na satisfação do impulso aqui-agora, a prática da relação ficar com é essencialmente descompromissada com o outro e mesmo que indigesta para alguns, trata-se de um estilo de vida adotado por homens e mulheres independentemente da orientação afetivo sexual, faixa etária, classe social, grau de escolaridade, ou outros.

É um exercício de efêmera sedução: beijos, abraços, carícias e até relação sexual. Amanhã será outro dia, outro/a ficante. A escolha do/a ficante ocorre por impulso e impulso satisfeito, descarta-se o/a parceiro/a sexual para experimentar outro/a – um novo impulso, uma nova parceria – despertada por uma nova embalagem.

O aspecto light dessa escolha pode trazer desencantos se não se prevenirem de uma eventual paternidade/maternidade não planejada, além dos riscos de doenças sexuais como a AIDS e DSTS entre outros dissabores.

O ficar com, pode tomar o rumo de namoro. Nesse momento, os ficantes elegem normas para seguirem em frente e, em geral, os pais e familiares passam a conhecer o/a ficante. Alguns perdem ao fascínio/impulso por uma nova embalagem após um dia, uma semana, um mês. Já o ‘namorico’ (parceria estável) – outro momento de escolha – envolve a convivência doméstica. Esse momento, ainda dominado pelo impulso de curtir a vida a dois, é quando muitas vezes um convida e o/a outro/a aceita compartilhar com o/a parceiro/a o seu habitat.

Uma pausa! O render-se ao impulso é exatamente este não planejar a vida a dois. A ação de compartilhar o espaço físico, envolve dividir as tarefas domésticas; observar o estilo de usar o banheiro; fazer compras de supermercado, divisão de despesas entre o conhecer o outro lado do(a) príncipe-(sa).

Decepções e novamente no impulso se separaram. Sofrem e repetem a escolha.

As chances de sucesso nas escolhas realizadas sob o domínio de um impulso são raras. Precisa-se estar imbuído de desejo e consciente dos deveres para realizar escolhas amorosas. Ninguém merece sofrer pelos “insensatos impulsos”. A relação estável requer cuidados, diálogos, concessões e a vivência de prolongadas frustrações. Planeja-la é uma estratégia para minimizar dissabores e sofrimentos.

*Dra. Maria Alves de Toledo Bruns é líder do Grupo de pesquisa Sexualidadevida e co-autora do livro “Educação Sexual pede Espaço: Novos horizontes para a práxis pedagógica”, editora Omega.


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