A família: a primeira escola a nos ensinar a amar

por Dra. Maria Alves de Toledo Bruns*

A família ocupa lugar de referência importante na construção de nossa identidade sexual e social. Ela é o palco principal, no qual cada um de nós aprende as primeiras lições de gênero. Ressalvadas as exceções, os códigos do namoro permitido pela família patriarcal podiam durar meses até anos. O período do namoro se constituía no preparo para o casamento. O contato do rapaz com o futuro sogro, em geral, ocorria após ele ter condições econômicas para oficializar o noivado e em seguida o casamento. A manifestação de afetos como beijos, carícias, toques era censurada e vigiada pelos familiares da moça, com a intenção de dificultar a transgressão do tabu da virgindade.

A fidelidade era um código a ser obedecido, principalmente, pela moça; ao homem era facultada a liberdade para iniciar sua prática sexual com prostitutas. No decorrer do processo de flexibilização dos valores morais e sexuais, juntamente com os anticoncepcionais, o namoro foi silenciosamente recriando seus códigos e moldando uma família menos controladora, menos punitiva e vigilante da preservação e reputação da honra.

O limite explícito dos códigos do namoro “tradicional” cedeu espaço para as seguintes modalidades de relacionamento entre os jovens: o ficar, o namorar, o morar junto, ter ou não ter filhos, casar entre outras, enfim, um cardápio de possibilidades. Os tempos mudaram! A manifestação de afeto e intimidade do jovem casal atual vem ocorrendo muitas vezes em seus próprios quartos.

Diante dessa postura muitos pais, se sentem invadidos em sua privacidade, própria do cotidiano familiar, pelo ficante da(o) filha(o). Nesse momento um diálogo entre pais e filhos pode sem dúvida esclarecer os limites e assim resolver situações conflituosos. Nota-se que apesar da divulgação sobre comportamento sexual ocupar lugar de destaque nos meios de comunicação de massa, o diálogo familiar é imprescindível, para o fortalecimento dos laços de confiança e de apoio. Investir nessa dinâmica relacional além de desenvolver a noção de limites tão necessárias a uma saudável convivência familiar e social, é uma estratégia de aprendizagem do amor – próprio que só acontece quando nos sentimos acolhidos e amados por outros, cabendo a família o lugar da primeira escola a nos ensinar a amar a nós mesmos, para assim aprendermos a respeitar a singularidade de cada um e a valorizar as diferenças, que nos tornam pessoas mais compreensivos e interessantes.

*Dra. Maria Alves de Toledo Bruns é líder do Grupo de pesquisa Sexualidade & Vida e co-autora do livro “Educação Sexual pede Espaço: Novos horizontes para a práxis pedagógica”, editora Omega.


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